[paisagem]

paisagem dela é janela de ônibus
que mudam os muros pixados
variações dos tempos que apagam pra de novo serem tinta-escritas-desenhos
é também espaço dos sóis que nascem e se vão em luas
que nascentes crescem e novas ficam de novo
no tempo apressado da cidade são paulo

da estrada

– pra mim, viajar é feito voltar a ser criança e olhar tudo com encanto, curiosidade…de querer pegar e tocar nas coisas, sentir suas texturas e cheiros, sabores, sabe?

foi isso que te falei quando nos encontramos numa rua de um país qualquer. vagando pelas ruas que não sabíamos onde dariam. olhando as placas que somavam letras que não sabia pronunciar, você tampouco. tanto fazia, a gente seguia.

eu queria saber de tudo, suas histórias. me deu vontade de colecioná-las, guardar em algum lugar, não queria esquecer. você ia estudar música, perguntei o que tocaria, disse que seriam sentimentos, achei tão bonito que me senti boba depois. você tinha um jeito sensível, um olho de cada cor e eu achava que andar por ruas e sentir o vento, olhar pras árvores, muros, lua e céu seria interessante com você.

vagamos horas incertas…

para não esquecer de tudo anotei no meu caderno de viagem, pois é, preservo essa mania…

estávamos num ponto de ônibus e ouvíamos conversa alheia. engraçado ouvir conversa alheia sem conseguir entender, a não ser fragmentos. a nota foi: “catorze em romeno é parecido com português”. e minha tentativa de te explicar do que eu ri quando percebi isso foi um fracasso.

e então me perguntou o que é saudade. eu tentei te dizer, mas não sei de tudo na sua língua e nem parece tão poético. eu fiz mímica, você riu da minha cara. foi então que gostei do seu sorriso.
é estranha e boa essa coisa de gostar de alguém e gostar de partir, seguir pra provar de tantos outros porvires.

enquanto pego outros caminhos penso, “teu nome ainda há de inspirar um poema que vou escrever”, georgia. mas só consigo lembrar “georgia on my mind”, clichê…mas quem sabe “a estrada leva de volta pra você”

as palavras

e se você parar para olhar as palavras e descobrir elas em outras línguas, ventana é poeticamente mais bonito que janela, parece que tem o ar, luz do sol ou de lua passando por ela quando você diz/ouve “ventana”.
Assim como a palavra saudade parece envolver tanto mais sentimento do que um “tu me manque”, “i miss you”, “te echo de menos”. parece que não é suficiente três palavras em comparação a uma que abarca tanto sentimento.
ver palavras, ouvir, sentir…
é isso, como as palavras nos fazem sentir e como é bonito o jeito que elas podem nos tocar.

Daqui 6 anos

Me pediram para fazer um planejamento do cronograma do meu projeto de pesquisa durante o período de 6 anos.
Descobri que sou péssima com planejamentos.
Mas sei que daqui 6 anos já terei 30 anos. Como será que vai ser?

(capacidade de distração infinita)

“Parece improvável que a humanidade em geral seja algum dia capaz de dispensar os “paraísos artificiais”, isto é, … a busca de auto transcendência através das drogas ou… umas férias químicas de si mesmo… A maioria dos homens e mulheres levam vidas tão dolorosas – ou tão monótonas, pobres e limitadas, que a tentação de transcender a si mesmo, ainda que por alguns momentos, é e sempre foi um dos principais apetites da alma.” (Aldous Huxley)

“Todos estão loucos, neste mundo?

Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores e diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total.”

(Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas)